19 de abril de 2011

Cruzamento: perigo de todo lado

Reproduzimos aqui este excelente texto do instrutor de pilotagem Geraldo TITE Simões. Aproveitem!

Assim que meu pai me deu a primeira moto, quando eu ainda era um pirralho de 12 anos, ele fez duas advertências: pilote olhando pra todos os lados e cuidado nos cruzamentos!


Bom, se ele dizia isso 38 anos atrás é sinal que as coisas já eram ruins naquela época e só poderiam piorar a partir de 1972. A recomendação não era gratuita, porque ele mesmo tinha sido vítima de um violento acidente provocado por um motorista que ignorou a placa de PARE pendurada em um poste! Felizmente meu pai apenas perdeu alguns dentes. Perdeu, não, porque na verdade eles ficaram todos fincados no volante do Gordini!

Cruzamento é uma situação tão exposta a acidentes que eu confesso – publicamente – que sou xiita o suficiente a ponto de desviar minha trajetória só pra fugir deles. Principalmente se não tiver semáforo. No meu começo como motociclista não havia as rotatórias, que reduziram muito a ocorrência de acidentes nos cruzamentos. Mesmo assim, o maior problema do cruzamento e das rotatórias é a incapacidade mental de motoristas e motociclistas em reunir as quatro letras P + A + R + E e perceber que elas, juntas, significam: PARE.

É impressionante como até o menos chegado à matéria como lingüística é capaz de somar essas quatro letras e deduzir que significa pare, e que a palavra “pare” no idioma português significa “imobilize-se”. O problema não é o significado, mas o significante: a placa! O brasileiro é um revolucionário: hay placa, soy contra! Seja de “pare”, seja aquele triângulo invertido (dê a preferência), seja a palavra PARE escrita no asfalto, tanto faz. Tem placa, é pra ignorar.

Recentemente, um motociclista jovem, bem sucedido, morreu quando um motorista de 19 anos ignorou a placa de pare e atravessou direto uma das mais movimentadas ruas de uma cidade do interior de São Paulo. Como sempre, as fotos estavam na internet no dia seguinte e pôde-se perceber que a moto atingiu o carro na metade traseira. Ou seja: o motorista entrou sem nem olhar!

No curso SpeedMaster eu reforço várias vezes a importância de pilotar de forma preventiva, que significa: duvide dos outros! Quando estou na moto a via preferencial é sempre a dos OUTROS! Não importa se há, ou não, placas de sinalização, semáforos, rotatórias, qualquer coisa. A moto é o veículo frágil do trânsito (só menos frágil do que as bicicletas), portanto cabe aos motociclistas a postura preventiva.

O pior   
Basicamente existem quatro tipos de cruzamento:

- O cruzamento em vias de mão dupla (o pior de todos)
- O cruzamento misto, com vias de mão única x via de mão dupla
- O cruzamento de duas vias de mão única
- O cruzamento com semáforo

Fonte: CETH-Honda
Cruzamento em vias de mãos duplas: Se existe uma condição extremamente exposta aos motociclistas é um cruzamento de mão dupla. Enfrentar esse cruzamento em si já é uma condição de risco extra, porque tem veículos convergindo de quatro direções: da esquerda, pela direita, por trás e pela frente.

Agora, imagine se o motociclista precisa virar à esquerda. Nessa situação o motociclista tem 25% de chance de ser atingido pelo veículo que vem de trás; 25% pelo que vem da frente; 25% de chance de ser atingido pelo carro que vem da esquerda e 25% pelo que vem da direita.

Não precisa ser um gênio da matemática para perceber que 25% x 4 = 100%!!! Em outras palavras JAMAIS se exponha a esta situação. Para entrar à esquerda é melhor seguir reto, dar toda a volta completa no quarteirão e enfrentar o cruzamento sempre de frente.

NUNCA pare no meio do cruzamento para esperar os carros passarem, porque esta é a PIOR situação que um motociclista pode se posicionar no trânsito. A moto tem uma área muito pequena e pode ficar facilmente escondida pelas colunas “A” (esquerda) e “B” (direita) dos carros. Imagine a dificuldade para o motorista de ônibus que está lá em cima! Não dá nem pra desviar da moto!

Essa situação só fica pior de uma forma: à noite! Imagine que a maioria das motos tem o farol integrado ao guidão, portanto o farol vira junto com o guidão. Nesse caso a moto se torna invisível para os veículos quem vêm em sentido contrário! E o motorista que vem de trás tem a visão ofuscada pelos carros que vêm em sentido contrário e não percebe o motociclista parado no meio do cruzamento!

Finalmente, uma dica aos motoristas: quando parar seu carro em um cruzamento de vias de mãos duplas para entrar à esquerda, nunca pare com as rodas já viradas pra esquerda. Pare sempre com as rodas apontadas para a FRENTE, porque se o carro parado levar uma batida por trás, com direção virada à esquerda, ele dará um salto pra esquerda e poderá ser atingido de frente pelo veículo que vem no sentido contrário. Que pode ser uma moto!

Fretados
Lembram que escrevi, muito tempo atrás, um artigo criticando os ônibus fretados? Pois a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente finalmente decidiu pegar no pé desses veículos. Primeiro houve ameaça de simplesmente proibirem as fretados, claro, porque a proibição é a forma mais fácil de resolver um problema complexo. Mas prevaleceu o bom senso e agora estudam regulamentar vias, criar bolsões de restringir as áreas de circulação deles. Só esqueceram do escapamento: vai continuar bem na altura do nariz dos motociclistas e pedestres. Mas quem liga pra nós?



Cruz credo!!!

O cruzamento  é uma situação tão crítica para qualquer veículo que deveríamos criar um santo protetor.




Já mostramos o pior de todos os cruzamentos, aquele de duas vias de mão dupla. Agora você conhecerá os outros três tipos de cruzamentos:

Fonte: CETH-Honda
Em vias de mão única – Nessa situação o maior risco é representado pelo outro veículo, sobretudo se o motorista/motociclista não respeitar os tradicionais sinais de trânsito. Existe uma norma de trânsito antiga e esquecida tanto por motoristas quanto por instrutores. Quando dois veículos se encontram em um cruzamento sem nenhuma sinalização, o que está à tua direita é que tem a preferência (fig.1).

Independentemente de códigos criados pelos departamentos de trânsito, para nós motociclistas é fundamental reduzir a velocidade em todo tipo de cruzamento, com ou sem sinalizações. E repare em um dado curioso: geralmente nos cruzamentos são pintadas faixas de pedestres, com um material reflexivo feito à base de plástico. Essas faixas apresentam um coeficiente de aderência inferior ao asfalto. Ou seja, onde mais precisamos de aderência para frear é colocado um redutor de atrito! Quando se aproximar das faixas de pedestres fique na parte escura, aquela feita de asfalto mesmo!

Fonte: CETH-Honda
Cruzamento de mão dupla x mão única – Esse tipo é potencialmente perigoso pela atitude dos outros veículos. Sobretudo dos que vêm no sentido contrário ao seu. É aquela famosa cena de um carro que corta a tua frente sem menor aviso prévio! Sempre que encontrar um veículo suspeito à tua frente, mesmo que não esteja com o pisca ligado, reduza e espere a reação do motorista. Se o carro estiver com o pisca ligado reduza ainda mais e sinalize para que ele cruze. É melhor parar e esperar o veículo cruzar a tua frente do que ser surpreendido por um maluco que decide virar a 30 centímetros do teu nariz!

Fonte: CETH-Honda
Posição perigo – Desde os primórdios da minha vida motociclística aprendi a jamais me posicionar entre os carros e a calçada (fig.3). O motivo é mais do que evidente: se o carro virar à direita o motociclista não terá por onde escapar porque tem a guia (ou sarjeta, depende de onde você está lendo). Apesar de todo risco óbvio que essa posição revela, vejo diariamente motociclistas nesta situação.  Hoje em dia com a popularização do telefone celular e da película escura nos vidros, os motoristas dirigem de forma displicente e têm maior dificuldade para visualizar os outros veículos, ainda mais se for uma moto pequena e espremida entre o carro e a calçada. Jamais fique nesta situação!

(texto originalmente publicado em duas partes no  http://www.motonline.com.br/colunistas/tite/cruzamento1-14jun09.html e http://www.motonline.com.br/colunistas/tite/cruzamento2-28jun09.html)

 

Geraldo Tite Simões
Jornalista especializado há 25 anos, piloto e instrutor de pilotagem. Já editou as principais revistas de motociclismo do Brasil.

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